Criança com doença de pele é retirada de voo por companhia aérea
Uma criança de 2 anos e 11 meses, seus pais e o avô foram obrigados a se retirarem de um voo da Gol que iria de Aracaju para São Paulo por causa de uma doença de pele rara que a pequena tem. A tripulação insistia que a doença era contagiosa. No entanto, a família estava indo para a capital paulista justamente em busca de tratamento para a pequena que sofre de ictiose — uma condição rara, mas que não passa de uma pessoa para outra. O caso aconteceu há pouco mais de uma semana.Era a primeira vez que a família voaria com a criança. O pai, Marcus Vinicius Alexandre Silva, contou ao site da Revista Crescer que passaram por todo o processo normalmente — check-in, raio x e portão de embarque - e ninguém falou nada até todos estarem acomodados dentro do avião. Faltando menos de 10 minutos para decolar, um funcionário da empresa os abordaram e perguntaram se a menina estava com catapora. Então, a família explicou a condição da criança."Inclusive, uma enfermeira especialista em dermatologia, que já tinha conversado conosco antes do embarque, tentou ajudar, explicando que se tratava de ictiose. Em seguida, veio uma aeromoça perguntando quantas bagagens tínhamos despachado. Minutos depois, outros funcionários vieram e fomos convidados a nos retirarmos do avião para conversar lá fora. Perguntei o motivo e disseram que minha filha tinha uma doença contagiosa. Tentamos explicar que não, a enfermeira também falou e, inclusive, responsabilizou-se por um laudo autorizando minha filha a viajar, mas disseram que ela não tinha competência para isso", relata Marcus. Após o piloto dizer que a Polícia Federal seria chamada se a família não saísse do avião, eles resolveram se retirar.Após o incidente, a companhia aérea sugeriu que a família embarcasse outro voo no mesmo dia, desde que conseguissem uma laudo provando que a doença não era contagiosa. Eles só tinham uma biópsia e vários documentos de consultas dizendo o que a menina tinha. "E aí, começou a correria. Fomos para um hospital, desesperados, explicamos a situação e uma médica nos ajudou. Voltamos para o aeroporto, demos banho nela na pia do banheiro e ficamos esperando por horas até o próximo voo."Marcus descreve a sensação de ter passado por isso. "Me senti um lixo. Ver sua filha ser exposta a isso é terrível. É um constrangimento enorme, nunca pensei que fosse passar por isso na minha vida. A gente já estava correndo para conseguir atendimento e passar por tudo isso foi muito difícil", desabafou o pai. Ele conta que estão recebendo orientação de advogados, mas que por enquanto o foco é a saúde da filha. Essa é a nossa prioridade. Depois, vamos conversar para decidir o que fazer sobre tudo o que passamos.Ao chegar a São Paulo, a família conseguiu atendimento no hospital da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde a menina ficou internada de segunda-feira (27) para terça-feira (28). Eles devem permanecer até começo de fevereiro no estado, para aguardar o resultado de mais uma biopsia na menina.RepúdioO caso chegou até as redes sociais depois que a enfermeira que estava no mesmo voo presenciou a cena e fez um relato na segunda-feira (27). "Indignação é o mínimo, para expressar tudo que senti hoje, neste voo da Gol. Não deixaram os pais falarem, não me deixaram falar, apesar de todas as nossas tentativas de lhes explicar que nem toda doença de pele é contagiosa. Foram desumanos, desrespeitosos com a família e comigo como profissional, pois disseram que eu 'não era médica e não podia afirmar isto', ou seja, duvidaram de meu conhecimento como enfermeira. A família ficou desamparada. Houve falta de acolhimento, de ouvir, de querer compreender e aprender que ictiose não é contagiosa, não transmite de uma pessoa para outra. Se já não bastasse tudo que passam com a doença da filha, ainda enfrentam desrespeito e comportamentos burocráticos de pessoas que deveriam ajudar. Que as empresas aéreas façam uma revisão de seus protocolos, orientem melhor suas equipes e que a Anvisa e a ANAC emitam um documento esclarecendo", escreveu Maria Helena Mandelbaum.Nesta terça-feira (28), o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), emitiu uma nota repudiando o desrespeito à criança e à enfermeira no voo da Gol."O Coren-SP repudia qualquer tipo de desrespeito contra os profissionais de enfermagem e lamenta que uma empresa desse porte não valorize as competências técnicas da profissão."O que diz a GolA Gol se pronunciou por meio de uma nota. "Sobre o caso, a GOL esclarece que a menor e sua família tiveram o embarque negado no voo G3 1503 (Aracajú – Guarulhos), já que os mesmos não portavam atestado médico informando sobre a doença da criança como é recomendado pela ANAC. Seguindo as regras de segurança da ANVISA, a Companhia ofereceu todo o suporte necessário, como transporte de ida e volta até um hospital local, para que a família pudesse pegar um atestado liberando a menor para viagem e esclarecendo sobre o diagnóstico da doença, deixando claro que não se tratava de uma enfermidade contagiosa. Após todos os esclarecimentos, a família seguiu viagem para São Paulo no voo G31501 (Aracajú – Guarulhos), às 11h20 desse domingo, 26", escreveram.A companhia ainda finalizou com a seguinte orientação: "A GOL reforça que todo passageiro com doença infectocontagiosa ou genética deve apresentar um atestado médico que especifique a ausência de risco para contágio, como é recomendado pelos órgãos regulatórios. Tal procedimento visa garantir a segurança e saúde de todos os viajantes".