Deitada, de cócoras ou até mesmo na água quentinha da banheira... A posição adotada pela mulher no período expulsivo do trabalho de parto deve sempre ser aquela na qual ela se sinta mais confortável. Algumas posições favorecem o nascimento do bebê, enquanto outras podem acabar dificultando. Os registros mais antigos revelam que as mulheres adotavam preferencialmente posições verticalizadas ou em quatro apoios, diferente da ideia de posição de parto que temos atualmente.
O parto como conhecemos hoje, com a paciente deitada sobre seu dorso e as pernas elevadas, foi introduzido por François Mauriceau (1637-1709), com o objetivo de promover maior “conforto” nos partos das mulheres ricas e nobres. Essa posição se tornou tradicional no atendimento a partos hospitalares. “A posição deitada facilita o trabalho do obstetra, em casos de partos difíceis ou instrumentados (uso de fórceps), mas não costuma ser a melhor para a mulher. O ideal para a parturiente é buscar a posição em que se sinta mais à vontade. Seja pelo alívio da dor ou pela facilidade de fazer força, cada mulher deve buscar sua própria posição para parto”, explica a ginecologista e obstetra Dra. Juliana Colotti Chalupe Amado.
Durante o período expulsivo, as posições normalmente adotadas são:
-
Litotomia: é a posição mais convencional. Deitada sobre o dorso, deve-se elevar a cabeceira para verticalização do corpo da mulher, e colocar os pés ou pernas em suportes. A maioria dos hospitais tem macas que são mais adequadas para essa posição, com alavancas que facilitam as manobras de empurrar. É a posição adotada quando se faz necessária intervenção do obstetra, para ajudar no nascimento.
-
Cócoras: exige um maior preparo físico da mulher, que apoia todo seu peso em suas próprias pernas. É uma posição mais intuitiva, normalmente é necessário apoio do acompanhante para ajudar na sustentação da mulher, segurando por trás, por baixo dos braços.
-
Quatro ou seis apoios: a mulher pode apoiar joelhos e mãos, ou joelhos, cotovelos e mãos no chão. Promove alívio da dor lombar, amplia o diâmetro da pelve óssea e incide em menor chance de laceração do períneo.
-
Banqueta de parto: é uma banqueta que fornece suporte para o parto de cócoras. A mulher apoia o quadril na banqueta e o meio é vazado, para a passagem do bebê.
-
Lateral: é uma posição confortável para a mulher, que durante o momento de força pode segurar e levantar a perna. Permite boa oxigenação fetal e bom controle da força, diminuindo as chances de laceração do períneo.
Papel do obstetra
Segundo a Dra. Juliana, os profissionais que atendem o parto normal devem trabalhar em conjunto com a paciente e seu acompanhante. O papel da equipe nesse aspecto é o de ajudar a parturiente a perceber os sinais de seu corpo. Quando a gestante relata que “falta força” ou que sente dores fora do esperado para o contexto do parto, talvez seja hora de mudar de lugar ou de posição.
Algumas manobras orientadas pela equipe também podem ajudar o bebê a assumir uma posição mais favorável para parto, ajudando-o a realizar rotações e a encaixar-se na pelve da mãe. “Estar em movimento e escutar os sinais do corpo é a melhor saída. No caso de apresentar algum fator de risco para pouca oxigenação fetal, ou mesmo sofrimento fetal durante o trabalho de parto, a melhor posição é deitar-se sobre o lado esquerdo”, alerta.
Para o alívio da dor
De acordo com a Dra. Juliana, durante o trabalho de parto, normalmente, a paciente se sente mais à vontade quando está em movimento. Pode ser fazendo uma caminhada, alguns agachamentos, sentada na bola suíça ou mesmo dançando, o importante é ajudar o corpo a trabalhar. Outras medidas também são interessantes para o alívio da dor, como massagens, banho de imersão e água morna do chuveiro. “É importante ressaltar o papel da doula, pois estudos comprovam grande melhora na evolução e desfecho do trabalho de parto quando a paciente é assistida por equipe multidisciplinar.”
Durante o período de latência do trabalho de parto (fase de descanso, contrações mais leves e distantes umas das outras), algumas mulheres preferem deitar-se de lado e cochilar. “Quando é realizada analgesia de parto, a mulher precisa permanecer por alguns minutos sob monitorização no leito. Em seguida, assim que se sentir segura, pode retomar a posição que for mais conveniente para seguir o trabalho de parto”, informa.
Já o parto na água é uma excelente opção, indicada para gestantes de baixo risco. “O parto na água é realizado com a gestante em imersão em banheira ou piscina, com água em torno de 36 graus. A água morna promove uma sensação de bem-estar e alívio da dor, além de facilitar a movimentação da mulher”, ressalta.