Ao esperar um filho, é comum aparecer em papais e mamães as inseguranças, dúvidas, receios, angústias, ansiedades, além do medo do desconhecido. Tudo isso propicia alterações emocionais e comportamentais ao casal, principalmente à mulher. Para que esse período de gestação seja tranquilo e consciente, é fundamental que o casal faça um pré-natal psicológico. A psicanalista Dra. Suely Pereira de Faria explica que o acompanhamento psicológico é tão importante quanto o ginecológico, pois prepara os pais e o ambiente familiar para a chegada do bebê. Confira mais informações com a psicanalista:
Muitas gestantes desconhecem que existe o pré-natal psicológico. Qual a importância deste acompanhamento para elas?
Tão importante quanto o pré-natal com o ginecologista é o acompanhamento psicológico durante a gravidez. O ciclo que se inicia na gravidez e se estende ao puerpério insere a mulher e as pessoas significativas de sua convivência em expectativas, sonhos e a experiência ímpar de renovação da vida. O pré-natal psicológico objetiva identificar e intervir psicoterapeuticamente o mais cedo possível sobre as alterações emocionais e comportamentais inerentes a este ciclo.
Em qual período da gestação o pré-natal psicológico deve ser iniciado?
Quanto mais cedo melhor! Em tempos de muita competitividade profissional e descobertas tecnológicas, a gravidez é um tema que nos convida ao contato com nossos ideais de vida. O acolhimento de ideias referentes à gravidez alimenta várias questões sobre a capacidade e a potência do casal, e estas surgem bem antes da confirmação da gravidez. Uma confirmação que precipita sentimentos ambivalentes dirigidos ao novo ser, total desconhecido, mas também esperado. Ou, como acontece com inúmeras mulheres, descobrirem-se grávidas de um bebê não esperado.
Há muita procura das gestantes pelo pré-natal psicológico?
Cada dia mais as pessoas se mostram interessadas em orientações e esclarecimentos sobre o aspecto psicológico da grávida, mesmo porque hoje, com os estudos sobre a fertilidade humana e o uso de técnicas que possibilitam a realização do sonho da gravidez para muitos casais, são introduzidas situações e experiências bastante particulares no acompanhamento psicológico. Para além dos mitos sobre a maternidade, os casais têm se ocupado mais de si mesmos, gerando uma procura do cuidado de si para se tornarem bons cuidadores de seus bebês.
Ansiedade, dúvida e medo são frequentes nas gestantes. O pré-natal psicológico pode ajudar diretamente nessas questões?
Sim. As alterações hormonais durante a gravidez contribuem para as alterações emocionais, de humor e do comportamento da grávida. Quem nunca ouviu falar sobre os desejos das grávidas? Às vezes estranhos e incompreendidos pelo outro! No ciclo gravídico-puerperal, contrariamente ao que se acredita, a mulher enfrenta resistências em entrar em seu recesso íntimo. Isso tem uma lógica, pois seu espaço vital está abrigando alguém além dela mesma, e não é à toa que sente angústia. A atenção, o toque, a escuta são essenciais para que a grávida sinta seu corpo e sua psique e lide satisfatoriamente com suas fantasias.
O pai também pode participar do pré-natal psicológico?
Sim. Os pais são muito esperados! É importantíssimo que eles saibam lidar com choro, fraldas e tudo o que acompanha a chegada de um bebê. Enquanto o futuro não vem, o casal grávido necessita manter o diálogo para que o desejo de um não se sobreponha ao do outro em detalhes como a preferência pelo sexo, escolha do nome e alguns outros que envolvem a família de ambos. É muito importante para a mulher comunicar suas novidades físicas e psíquicas sobre o desenvolvimento da gravidez, e um companheiro atencioso não subestimará as suas inquietações sobre a aparência, seu estado de espírito, seu trabalho e tantas inquietações cotidianas.
A depressão pós-parto pode ser evitada com o pré-natal psicológico?
Sem dúvida. O acompanhamento psicológico no ciclo gravídico-puerperal permite identificar mais precocemente sinais de fragilidade e de sofrimento psíquico, não somente da mulher grávida, pois cada vez mais comum os homens se apresentam impotentes, improdutivos por não conseguirem elaborar emocionalmente o nascimento de um filho.