Como o senhor avalia a medida do governo federal que, com partogramas, busca estimular o parto normal e reduzir as cesarianas?
Essa medida adotada pelo governo não ajudou em nada a baixar os índices de cesariana no Brasil! O partograma já é uma boa prática de assistência ao parto há séculos. O que o governo quis fazer foi tentar reduzir os índices de cesárea de uma maneira arbitrária, unilateral, sem discutir com os médicos e com a sociedade. E o resultado foi que não houve absolutamente nenhuma mudança nos índices. Nossa sociedade é cesareanista. Precisamos mudar a mentalidade sobre como nascer na educação de nossos filhos, para que eles cresçam com a cultura do parto normal. Os países de primeiro mundo mantêm altos índices de parto normal porque é cultural, porque as pessoas acreditam que o parto normal seja a melhor forma de nascer, e não porque o governo quer.
Ficar em jejum e raspar pelos eram práticas comuns quando os partos saíram das mãos das parteiras e passaram a ser realizados em centros cirúrgicos. São práticas que continuam em voga atualmente?
Isso já não faz mais parte da boa prática obstétrica há muitos anos. A medicina baseada em evidências científicas nos mostrou que essas atitudes não diminuem infecção, como originalmente se pensava. Muito pelo contrário, atrapalham em muito o foco do parto normal.
O parto precisa ser realizado sempre em centro cirúrgico?
O parto não precisa ser realizado necessariamente dentro do centro cirúrgico, mas é recomendado que seja realizado em uma unidade hospitalar.
É necessário realizar toques vaginais durante o trabalho de parto? Por quê?
É muito importante realizar toques vaginais durante o trabalho de parto para avaliar se o processo está evoluindo bem. Esses toques devem ser realizados a cada uma hora, conforme determina o partograma. Existe uma máxima em obstetrícia que diz que “os olhos do obstetra estão na ponta de seus dedos”.
Quando a episiotomia é necessária?
A episiotomia é um corte efetuado na região do períneo (área muscular entre a vagina e o ânus), por meio de uma tesoura ou bisturi, com o intuito de ampliar o canal de parto e prevenir danos à musculatura pélvica da mulher. Nos últimos anos, vários trabalhos científicos publicados mundo afora provaram não ser um procedimento necessário na maioria dos partos. Hoje, é consenso no mundo inteiro que a episiotomia deve ser feita obrigatoriamente em um pequeno grupo de mulheres.
Qual a melhor posição para o parto normal?
O parto normal se dá com mais facilidade e rapidez quando a grávida está na posição vertical, seja sentada em uma banqueta de parto ou de cócoras. É uma posição boa para o bebê e para a mãe. A posição deitada traz mais dor lombar para a grávida, limita a realização da força involuntária, realizada pela grávida para ajudar a força da contração, atrapalha a mobilidade da gestante, além de ser uma posição que não conta com o auxílio da força da gravidade.
Quais recursos podem ser usados para aliviar a dor do parto normal?
Os métodos não farmacológicos incluem controle de respiração, exercícios físicos, banhos de água quente, massagens e outros mais. Já os farmacológicos incluem medicações analgésicas, que podem ser administradas na veia da grávida, no músculo ou no liquor (líquido que banha a medula espinhal), podendo ser utilizadas a analgesia peridural ou a raquianestesia.
O que é o fórcipe? Ele ainda é utilizado?
O fórcipe, ou fórceps, é um instrumento utilizado para puxar o bebê na fase final do trabalho de parto. É um instrumento semelhante à duas colheres que são inseridas no canal vaginal para retirar o bebê quando ele inicia um processo de sofrimento e precisa nascer logo para não ter sequelas. É utilizado em partos complicados e que, quando corretamente usado, salva vidas. Existe um preconceito grande com este instrumento, proveniente de lesões causadas pelo mau uso. Na mão de parteiro experiente, é inofensivo. Hoje temos um instrumento menos estigmatizante, chamado vácuo-extrator, feito de silicone, que estabelece uma tração mais suave na cabeça do bebê.
O cordão umbilical deve ser cortado imediatamente após o nascimento ou o bebê deve ter um primeiro contato com a mãe antes?
A recomendação da comunidade médica científica é que o cordão seja cortado após parar de pulsar, para que o bebê receba mais sangue proveniente da placenta, prevenindo a anemia e a icterícia no bebê após o parto. Independentemente de o cordão ser cortado antes de parar de pulsar ou após, o bebê deve ser levado para contato direto com a mãe logo após o nascimento.
A mãe pode ter acompanhante durante o parto?
A parturiente pode e deve ter um acompanhante durante o trabalho de parto e o parto propriamente dito! Ele traz tranquilidade para a grávida, auxiliando-a e a apoiando-a em um momento tão importante quanto o processo de maternidade! Hoje é lei no Brasil: toda grávida tem direito a um acompanhante de sua escolha durante o parto.