Você tem asma? Sabia que este é um dos problemas médicos potencialmente sérios, que podem complicar a gravidez? Trabalhos científicos sugerem que a asma complica 1% das gestações e 7% das mulheres em idade fértil manifestam a doença.
Isto faz com que a ocorrência de asma durante a gestação não seja um evento raro. “Por isso, a paciente e sua família precisam receber informações para o controle adequado do quadro, bem como sobre o uso de medicamentos considerados seguros para a futura mamãe e o bebê”, orienta o alergologista Dr. Clóvis Eduardo Santos Galvão, presidente da Associação Brasileira de Asmáticos, regional São Paulo (ABRA-SP). Entenda:
Efeitos da gestação na evolução clínica da asma
Alterações químicas que normalmente ocorrem na gestação podem afetar o curso clínico da asma. Algumas dessas alterações têm efeitos benéficos, como o aumento progressivo do nível de cortisol no sangue e o aumento progressivo da progesterona ao longo da gravidez, relaxando a musculatura lisa dos brônquios.
Os fatores danosos incluem o aumento de prostangladinas broncoconstrictoras (como a PgF2 no final da gestação e no parto) e uma diminuição na resposta imunológica mediada por células, tornando as grávidas asmáticas mais suscetíveis às infecções. “A maioria dos estudos realizados mostra que quanto maior a gravidade do quadro antes da gestação maior a probabilidade de piora.”
Efeitos da asma na mãe e no bebê
Dois grandes estudos epidemiológicos publicados no início da década de 70 mostraram os efeitos adversos da asma na mãe e no feto: no primeiro estudo, os autores avaliaram 277 asmáticas que engravidaram, de um total de 30.861 mulheres.
Embora não tenham encontrado nenhuma diferença no peso ao nascer, houve aumento de óbitos perinatais no grupo de asmáticas; no outro estudo, 381 asmáticas grávidas, de um total de 112.530 gestantes sem doenças foram avaliadas e os autores encontraram uma incidência significativamente maior de complicações no parto, prematuridade, baixo peso ao nascer e morte perinatal em asmáticas, quando comparadas com mulheres sem doença antes da gravidez. Todos os autores concordam que as grávidas asmáticas e seus bebês deveriam ser considerados pacientes de alto risco.
Tratamento
Assim como na asma sem gravidez, é muito importante a identificação de todos os fatores precipitantes em potencial como os alérgenos específicos (ácaros, pelos, fungos, polens etc.), uso de medicamentos (como os anti-hipertensivos, betabloqueadores e o ácido acetilsalicílico) e as infecções.
O médico e a paciente devem estar atentos ao uso apropriado de agentes broncodilatadores e antibióticos, evitando medicamentos potencialmente perigosos para a mãe e o bebê. Um dos principais objetivos do controle e prevenção das crises é a manutenção de oxigenação adequada para a mamãe e para o feto.
A terapia medicamentosa é semelhante à da asmática não grávida. Obviamente nenhuma droga é considerada absolutamente segura, e todas deveriam ser evitadas se possível, particularmente durante o primeiro trimestre, quando o risco de produzir malformações congênitas é maior.
Por outro lado, as drogas consideradas seguras devem ser usadas sem hesitação, devido aos perigos de asma descontrolada e desenvolvimento de insuficiência respiratória aguda, que seriam mais prejudiciais ao feto e à mãe.
Logo antes do parto, as medicações adrenérgicas excessivas devem ser evitadas, pois estas drogas inibem a contração uterina e prolongam o trabalho de parto. Durante o parto, a oxigenação materna deve ser continuamente monitorada, nos casos de asma grave. Anestesia geral e entubação endotraqueal devem ser evitadas, para prevenir irritação na árvore traqueobrônquica e os efeitos depressores respiratórios dos anestésicos.
Se precisar de anestesia geral, evitar o uso de agentes que causam broncoconstrição. O tratamento com vacinas não deve ser iniciado na asmática grávida, entretanto, se a paciente asmática engravidar depois de iniciado o tratamento com as vacinas, o mesmo pode ser continuado.
Com relação ao aleitamento materno, deve ser encorajado devido às vantagens terapêuticas para o recém-nascido. O leite materno comprovadamente possui propriedades anti-infecciosas e dá proteção contra alergias respiratórias. As medicações evitadas durante a gravidez devem ser prevenidas também durante o aleitamento materno.
“Em conclusão, a paciente asmática quando engravida deve ser tratada com todos os cuidados e orientações médicas, visando o melhor controle possível de sua asma, lembrando que os riscos da asma não controlada para a gestante e para o feto são, na maioria das vezes, bem maiores do que os riscos dos possíveis efeitos adversos das medicações usualmente prescritas.”