A prevenção até o primeiro ano de vida do bebê reduz em 96% a necessidade de tratamento odontológico curativo no futuro . E engana-se quem pensa que essa orientação se restringe apenas à prevenção de cáries. O trabalho de um odontopediatra vai muito além, contribuindo, por exemplo, para evitar fatores como a má-oclusão e a Síndrome do Respirador Bucal, que estão diretamente ligadas ao desmame precoce. Para falar mais sobre o assunto, o Manual da Mamãe consultou a Dra. Maria Aparecida Teixeira de Aquino, especialista em Odontopediatria:
Por que se preocupar com a má-oclusão de um bebê antes que ele tenha seus dentinhos?
A resposta é simples: algumas funções do sistema neuromuscular como abertura, fechamento e o reflexo da deglutição já estão presentes antes mesmo do nascimento, na vida intra-uterina. A face é a parte do corpo que mais sofre modificações pela natureza, pelo ambiente e pelos movimentos executados, sendo, portanto, o lugar que mais apresenta incidência de deformidades. Por isso, detectar qualquer alteração o mais precoce possível nos dará maiores chances de um bom prognóstico.
Quais os fatores que podem ocasionar oclusão?
Os fatores causadores podem ser locais, como a doença cárie e extração precoces de dentes, funcionais ( respiração, sucção, deglutição e mastigação) e ambientais (posição de dormir, de mamar etc). Os hábitos nocivos como sugar o dedo, respirar pela boca e não mastigar adequadamente são fatores importantes e, muitas vezes, responsáveis pela má-oclusão. A hereditariedade é um fator relevante, mas não o responsável, já que está comprovado que pode ser modificado pelos fatores funcionais e ambientais. Resumindo: o fato de os pais terem uma boa ou má-oclusão não é garantia de que os filhos também terão.
Neste sentido, as pesquisas indicam que o aleitamento materno reduz consideravelmente a possibilidade de a criança ter má-oclusão. Por que isso acontece?
Além de todas as qualidades nutritivas, o aleitamento materno é o responsável pelo crescimento mandibular. Vale lembrar, que toda criança nasce com a mandíbula menor em relação à maxila. Esse crescimento da mandíbula se dará principalmente durante o aleitamento materno. É que no processo de amamentação, são realizados inúmeros exercícios nos músculos faciais do recém-nascido. Eles são os grandes responsáveis pela futura relação maxila/mandíbula. É neste momento também que aparece a coordenação entre os refluxos da amamentação, respiração e deglutição, fazendo com que seja instalada a respiração nasal.
Diante disso, existe uma posição padrão para a amamentação?
Não existe uma fórmula única para amamentar, já que ela vai variar de acordo com a necessidade de crescimento dos ossos faciais da criança. A definição desta posição dependerá dos fatores hereditários, dos hábitos funcionais (respiração, sucção e deglutição) e da relação maxila/mandíbula. Por isso, é importante consultar o odontopediatra para que seja feito um aconselhamento no sentido de corrigir ou retirar algum fator que não seja favorável, introduzindo hábitos saudáveis, que ajude a natureza a esculpir um rosto bonito harmônico. É importante que a consulta ocorra antes do terceiro mês de vida do bebê (para a amamentação artificial) e entre o terceiro e quinto mês (para amamentação materna).
Para as mães que não conseguiram amamentar existe algum paliativo para, pelo menos, minimizar o problema da má-oclusão?
Existem posições mais adequadas para o aleitamento artificial, para carregar a criança, para coloca-lá para deitar. Mas, como disse anteriormente, não existem fórmulas prontas para todos os casos. Tudo tem que ser analisado individualmente. Existem coisas simples para se fazer e outras para se evitar. A posição de prender o bico da roupa da criança, por exemplo, pode influenciar em toda a dentição. Ela deve ser sempre central, nunca de lado. No trabalho de orientação serão ensinadas mensagens para que os ossos da face sejam moldados de acordo com a necessidade do bebê.
Quando começa a introdução de alimentos é necessário estar atento para alguns fatores?
Nesta fase, é importante estar atenta à mastigação. Ela deve ser ensinada para que todo o trabalho anterior não seja perdido. Os alimentos devem ser cortados com os posteriores, sendo feita dos dois lados, sob pena de provocar alguma alteração na musculatura da bochecha, do nariz etc. Por isso nada de comidas pastosas, liquidificadas ou passadas na peneira. Pode-se dar, também, frutas mais macias em pedaços (mamão, banana, melão) e, a partir da introdução da alimentação salgada, oferecer à criança coxinha de frango, bifes, para que os músculos da face continuem sendo exercitados. Quem não mastiga bem corre o risco não só de ter problemas de má-oclusão, como perder os dentes por falta de função.
Mesmo que o atendimento não tenha sido precoce, ainda é possível corrigir um problema numa criança maior?
Sim. A escolha do tratamento vai depender da gravidade do caso e da idade do paciente. O uso de pistas diretas ou planas é uma opção. O acompanhamento periódico vai minimizar ou evitar o uso de aparelho ortodôntico e até de cirurgias ortodônticas no futuro. É bom ressaltar que um problema de má-oclusão pode provocar alterações que vão desde uma assimetria facial (face torta) até dores de cabeça. O respirador bucal pode, por exemplo, ter apneia noturna, problemas estomacais, déficit de atenção e dores de cabeça intensa.