Entenda a diferença entre craniostenose e hidrocefalia
Frágil, o cérebro tem duas principais proteções, a caixa craniana e o líquor, um líquido incolor composto por 99% de água. Alterações nesses dois quadros em recém-nascidos e bebês provocam, respectivamente, a cranioestenose (assimetria craniana devido ao fechamento precoce das “moleiras” e suturas cranianas); a plagiocefalia posicional (“cabeça torta” por posicionamento inadequado do bebê) e a hidrocefalia (acúmulo patológico de líquor dentro da caixa craniana).O neurologista e coordenador do Centro de Excelência em Cranioestenose e Hidrocefalia do Hospital Infantil Sabará, Prof. Dr. Fernando Campos Gomes Pinto, explicou ao Manual da Mamãe detalhes sobre diagnóstico e tratamento dessas três doenças. Fique atenta:

 

 

Hidrocefalia

 

O cérebro tem cavidades conhecidas como ventrículos. Nesta região, é produzido o líquor, um líquido incolor composto por 99% de água e que tem três funções principais: proteção mecânica do cérebro contra impactos na cabeça, porque junto com o crânio, amortece o choque mecânico do acidente; proteção biológica contra micro-organismos (bactérias, fungos e vírus), porque células de defesa imunológica utilizam o líquor como meio de atingir toda a superfície do sistema nervoso central; limpeza de neurotoxinas e produtos do metabolismo cerebral, levando estes detritos para fora do crânio ao serem absorvidos numa importante veia conhecida como seio sagital superior.

 

 

Porém, o acúmulo patológico de líquor dentro da caixa craniana compromete o desenvolvimento cerebral e provoca limitações neurológicas importantes, podendo acarretar macrocrania (cabeça de tamanho grande), retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, distúrbios visuais e até mesmo morte. Isso é conhecido como hidrocefalia, doença que compromete um em cada 500 recém-nascidos. As causas podem ser genéticas ou adquiridas mesmo durante a gestação.

 

 

Em crianças de até um ano, o sintoma mais comum é o crescimento exagerado da cabeça. Outras características são irritabilidade, sonolência, atraso no desenvolvimento psicomotor e dificuldade para enxergar. Já em crianças a partir de um ano, os sinais são semelhantes aos dos adultos, como dores contínuas de cabeça associadas a vômitos (geralmente noturnos e matutinos), além de dificuldades para caminhar e dormir.

 

 

O diagnóstico clínico confirmado por exames de neuroimagem (ultrassom transfontanelar, tomografia de crânio e ressonância magnética de encéfalo) propiciam o planejamento cirúrgico personalizado. O tratamento definitivo pode ser realizado por meio do implante de prótese (válvula de derivação ventricular) ou da neuroendoscopia. Com a realização do procedimento neurocirúrgico, o fluxo liquórico é restabelecido, o cérebro deixa de ser pressionado e a criança pode se desenvolver adequadamente.

 

 

 

 

Cranioestenose e Plagiocefalia Posicional

 

A principal função da caixa craniana é proteger o cérebro. Além da importância estética, a simetria do desenvolvimento do crânio é sinal de saúde da criança. A cranioestenose (assimetria craniana devido ao fechamento precoce das “moleiras” e suturas cranianas) e a plagiocefalia posicional (“cabeça torta”, por posicionamento inadequado do bebê) têm tratamentos que devem ser instituídos preferencialmente até o sexto mês de vida. Por isso, é fundamental o reconhecimento precoce da assimetria craniana, pelos pais e pediatras.

 

 

A cranioestenose ocorre devido a mutações genéticas específicas. Existem duas formas: as não sindrômicas e as sindrômicas. As cranioestenoses não sindrômicas ocorrem em um a cada 2.500 nascidos vivos. A plagiocefalia posicional, por outro lado, ocorre por eventos externos, como posicionamento compressivo da cabeça do bebê dentro do útero, uso indiscriminado e muito prolongado de cadeirinhas tipo “bebê conforto” ou até mesmo por dormir sempre do mesmo lado no berço.

 

 

O diagnóstico precoce, o planejamento cirúrgico personalizado e a correção adequada da cranioestenose são os passos fundamentais do tratamento neurocirúrgico. A tomografia de crânio com reconstrução 3D fornece o diagnóstico definitivo do fechamento precoce da sutura craniana, mas deve ser indicada com parcimônia, pois há exposição do sistema nervoso central ao raio-x.

 

 

Avanços tecnológicos têm sido incorporados ao tratamento, garantindo melhores resultados estéticos e funcionais, como a fixação do crânio remodelado cirurgicamente com miniplacas absorvíveis, o desenvolvimento de técnicas endoscópicas minimamente invasivas e a utilização de órtese craniana (capacete).

 

 

É conveniente ressaltar que o planejamento cirúrgico em conjunto com os pais é muito importante. A análise completa de riscos, custos e benefícios estéticos e neurofuncionais deve ser feita ainda na fase pré-operatória. A existência de núcleo de assistência, em centros de excelência, viabiliza este planejamento de forma mais humana e racional. Assim, o tratamento ocorre com segurança e de maneira organizada para a criança e para os pais.